quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A menina e a mulher moram em mim.



Em determinada fase da infância toda menina tem pressa em se tornar mulher. Por sua vez toda mulher adulta conserva a menina que foi em si e às vezes é a menina que fala, age, ama, ri e chora. Trago, ao Mulheres em Dobro, um texto de minha autoria, publicado em 26 de fevereiro, no Caderno Literário do Portal Comunique-se, que passeia pelas emoções da mulher-menina.



Há dias que acordo menina. Não quero deixar os lençóis macios, nem os sonhos bons. A vida lá fora não me atrai. Melhor deixar que os adultos tomem conta, pois essa menina aqui quer ficar quietinha com seus devaneios felizes. Quem sabe, não adormeço de novo e sonho com meu príncipe?

Como menina sou frágil e indefesa, sinto-me abatida na caça. Acho que o que fazem comigo é para me magoar. Choro, mas é um choro abafado, pois a mulher ainda comanda a menina. Procuro colo, como uma criança faz e encontro.

São os anjos que me querem bem e que já não se impressionam com meu choro, contudo se preocupam com a minha dor. Sento no colo dos seres que Deus mandou para me ajudar e fico ouvindo tudo de bom que eles têm para me dizer.

Ah, eles enchem a bola dessa menina-mulher, mas também se acham no direito de me repreender. E só a eles eu ouço. Eles também não me deixam sem companhia, me levam a rir e a tentar ver a vida com olhos esperançosos de mulher.

Depois do pranto infantil, a mulher toma seu posto. A dor continua, mas ela já sabe andar só. Sabe que tem que levantar e curar suas dores; tratar de sua vida. Então, levanta e vai trabalhar. É preciso. A mulher se renova. Volta à academia. E reza. Cuida do corpo e da alma.

Tropeça vez ou outra (é a menina andando nos saltos altos da mulher). Porém a mulher já caiu outras vezes e aprendeu a levantar, apesar da dor que não cessa.
De vez em quando a menina se encolhe e chora. Seu analista diz que é assim mesmo. Diz que ela tem todas as armas da mulher, mas que não aprendeu a usá-las. Todavia, insiste o terapeuta, é necessário agir como mulher e prosseguir.

Essa menina mora em mim, mulher madura. E apesar da idade ainda não aprendeu que a vida não é tão bonita como nos filmes de amor, mas a cada dia ela se sente mais mulher e mais forte. E com vontade ser feliz.


Evelyne Furtado.

2 comentários:

Anônimo disse...

Pois é Eve, acho que a maioria das mulheres se sentem assim, às vezes menina, às vezes mulher. Acho também que é essencial para podermos encarar a vida , está na esseência feminina. Bjs. Jeane.

Evelyne Furtado. disse...

Verdade, Jeane. Obrigada pela força e beijos.