Naquele dia Clarice acordou e não viu nenhum motivo para sair da cama. Nada a empolgava. Não havia nenhum compromisso que valesse à pena. Nenhum programa bom a fazer. Nem mesmo um livro bom a tiraria daquele torpor. Parecia a Clarice que nenhum dos seus sonhos havia sobrevivido à realidade chata que a rodeava.
Será que nunca mais teria uma daquelas conversas instigantes que a faziam vibrar? Será que não haveria um lugar no mundo que a fizesse programar uma viagem para conhecer?
Clarice pensou nas pessoas que conhecia e de quem gostava. Não queria deixar de vê-las, mas não agora. Deixaria para depois. Pensou se ainda conheceria alguém interessante, que trouxesse alegria a sua vida e duvidou.
Relembrou de músicas que tocaram seu coração e até cantarolou, porém não passou disso. Apenas avivou sua memória afetiva, com os momentos intensos, ternos e românticos.
Clarice chegou a sorrir ao lembrar dos abraços, beijos e carícias trocados, no entanto também sentiu vontade de chorar. E foi aí que ela percebeu que estava trancando seus sentimentos para não se decepcionar. Eliminando expectativas ela não se frustraria, mas também não viveria com ardor. E Clarice chorou todas as decepções e mágoas. Um pranto sentido e soluçado. Um pranto que a deixou com os olhos inchados, mas alforriou toda tristeza do seu peito.
Lúcida, se deu conta que havia muito tempo que vivia assim: sobrevivendo, pisando no freio da imaginação e recalcando os desejos. Havia motivo para levantar da cama. Estava viva e com um apetite louco. Mataria o primeiro desejo no café da manhã. Depois decidiria o que fazer. Tinha sonhos antigos e alguns fresquinhos para usufruir.
Evelyne Furtado
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2 comentários:
Evelyne
Adorei Clarice. Confesso, que ás vezes, me sinto um pouco como ela. Seu blog funciona como terapia. Beijão
Terapia é ler você, Celamar! Adoro de verdade. O texto do C-SE de hoje está ótimo!
Todas temos nossas fases Clarice, não é? Algumas disfarçam, outras são Clarices mesmo!
Beijos e obriada.
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